terça-feira, 24 de julho de 2012

À Conversa Com... Rafael Madeira

Se houver quem precise de apresentações, o Rafael é um dos pilares da cena hardcore portuguesa actual. Porquê? Porque conhece todas as pessoas do hardcore do mundo, marca concertos, tours e ajuda bandas há mais tempo do que a internet faz parte da cena portuguesa. Não chega? Era baterista de Pointing Finger e já deve ter tocado em trinta bandas nos últimos dez ou doze anos (incluindo algumas de fora...!). Basicamente: o Rafa é uma lenda vida – e eu não pude perder a hipótese de o deixar inaugurar este espaço!


Rafa, eu já te conheço há buéda anos. Até assusta um bocado, olhando assim para trás. Tenho muitas memórias de tempos passados no Algarve para ver concertos de Pointing Finger, antes de virem tocar a Lisboa pela primeira vez. Como é que era a cena hardcore de Faro nessa altura (início de 2000)? Como é que as coisas aconteciam numa altura em que a internet ainda não tinha ganho a dimensão que tem hoje, mais de uma década depois?

O tempo voa. Já passaram tipo catorze anos desde esses tempos e continuo sendo a mesma pessoa, com as mesmas convicções – Faro foi uma escola do punk hardcore para mim! Cada vez que oiço falar das histórias antigas do NYHC das ruas, associo logo a Faro, porque foi nesse ambiente nas ruas de Faro, de manhã à noite, em que vivi, absorvi e aprendi todos os valores e ideias por detrás da cena hardcore. Sim, era por vezes uma beca auto-destrutiva, muito álcool, muita anarquia mental e muita destruição, mas acima de tudo havia um espírito de irmandade! Nunca gosto de mencionar a meu background como tempos que foram melhores do que agora, mas sim, gostava que as pessoas dessem valor a quem ainda está aqui de alma e coração, porque quando era miúdo no meu quarto só tinha uma cama, um guarda-fato e uma mesa de cabeceira. Jogos de computador, telemóveis, internet, Facebook... nada disso existia! Tinha um walkman da Sony que vivia anexado ao meu corpo onde cassetes mal gravadas (em que se ouviam as músicas que tinham sido gravadas antes quando passava de uma música para a outra) fluíam pela minha mente vinte e quatro horas por dia. Chegava a esperar um mês por cassetes que me gravavam com punk hardcore e que me chegavam pelo correio – era a maior felicidade do mundo!

Se houvesse concertos com duas bandas locais na minha cidade nem dormia na noite anterior! Nesse tempo em Faro tive uma granda escola! Tive, tenho e terei sempre a sorte de o meu vizinho e amigo de infância ser o Pedro Bica de Kontrattack (banda que formámos nos princípios de 1999) que é uma enciclopédia viva de punk hardcore em Portugal! Mas Faro era escola, muita escola. Lembro-me que ouvi vezes sem conta, todos os dias durante mais de um mês sem parar uma cassete muita chunga com os Ratos de Porão ao vivo! Faro tinha mil bandas boas: Nestrum, Xunga Core, Porks, Punk-Kecas. Estamos a falar de princípios dos anos noventa! Punk-Kecas fazia uma cover de Olho Seco, a “Nada”, mas cantavam “Não se pode andar mais nas ruas de Faro!” em vez de São Paulo! Eram tempos dourados, em que a comunicação fazia-se pessoalmente, escreviam-se cartas, trocava-se som por correio e era uma grande irmandade.

Eu sei que costumavas vir a Lisboa ver concertos, que idade tinhas nessa altura? Suponho que cada viagem fosse uma aventura digna desse nome e acredito que pensar nisso te traga boas memórias. Notavas que havia uma maior distância entre a cena de Lisboa e o resto do país?

Man, ya, mega aventuras! Não ia propriamente a Lisboa, das primeiras vezes que fui a Lisboa foi mais para ir para Linda-a-Velha! Na altura, em 94/96, o Blitz anunciava todos os concertos de hardcore que aconteciam na Academia de Linda-a-Velha, então o ritual era passar fome durante a semana, poupar a guita que o meu pai me dava para comer na escola e dar uma granda tanga ao meu pai e ir de autocarro para Lisboa! Nessa altura a estação era no Arco do Cego, mas na antiga estação mega chunga, para quem se lembra! Depois como tinha tempo ia a pé até ao Marquês de Pombal e apanhava o autocarro para Linda-a-Velha. A Academia não era muito longe de onde parava. Os concertos acabavam sempre antes da meia-noite, então mal acabava apanhava um táxi muito rápido, a tempo de conseguir apanhar o autocarro da uma da manhã para Faro e chegar às seis e meia da manhã (era o autocarro que parava em todos os sítios e vinha sempre cheio de chungaria).

A cena em Faro nesse tempo era super parecida com a cena de Linda-a-Velha, tanto que existiu sempre uma irmandade enorme entre o pessoal de Linda-a-Velha e o de Faro. Por exemplo, lembro-me de ver Trinta & Um em Faro ainda com dois vocalistas e Metralhas e Punk-Kecas também tocaram em Linda-a-Velha e uma vez no Hardcore Café na 24 de Julho! Eram cenas hardcore bué parecidas, Faro era totalmente trips, bongos, álcool, siga a marinha! Vi bandas brutais em Linda-a-Velha, desde Trinta & Um, Metralhas, Ás de Chapadas, Braço de Ferro e vi um concerto de X-Acto na Academia que foi um dos melhores de sempre: não havia muitos straightedge na sala, mas estava toda a gente a curtir – o pit estava violentíssimo, stage diving mesmo do maluco –, o Rodrigo bem avisou várias vezes para o pessoal não enlouquecer mas foi impossível, estávamos em Linda-a-Velha e aquele pit era demoníaco –parecia que estava em Faro, onde o pessoal fazia stage dives do primeiro do Tal Bar nos concertos de Punk Kecas. Impossível não haver sangue, nódoas negras e pessoal todo aleijado no dia seguinte! No último instante desse concerto de X-Acto, um maluco fez um dive de cabeça pró chão, resultado: sangue por todos os lados. WILD!

Mas sim, voltando ao tópico, não existia internet como hoje em dia e obviamente a cena hardcore na zona de Lisboa era mais “organizada”, tinham mais acesso às coisas, mas tipo imagina... Faro era uma mistura entre a cena da MSHC e Linda-a-Velha! Loures também tinha uma cena hardcore distinta no tempo da SPOC e também tinham uma boa relação com a cena de Faro, com amizade entre o pessoal dos Punk-Kecas e o pessoal de Omited Grass Reaction. A cena era mais centralizada em Lisboa, mas logo de seguida tinhas o Algarve, Faro e Loulé principalmente. Sempre foi assim. Também sempre houve hardcore no Porto, mas só começou a ficar maior a partir do princípio dos anos 2000. Lisboa era mais central e era onde acontecia tudo! Sei lá, histórias assim mais brutais para mim foi quando fui ver GBH no Cais do Sodré em 1996, com os punks de Faro e mais algum pessoal do hardcore. Foi brutal, man! Mas a melhor recordação foi o concerto de Madball no Paradise Garage em 1999 onde foram na boa uns trinta manos do Algarve e o pessoal de Faro na maior destruição! Primeiro foi um arraial de banhadas no Pingo Doce lá ao pé, com os seguranças a verem e a não fazerem nada, depois foi a surrealidade de um bacano de Faro ter conseguido a proeza de entrar no Paradise Garage com uma garrafa de Jack Daniels! De salientar que dentro da garrafa, já sem tampa ou que raio fizeram, misturam uns ácidos e toda a gente que bebeu daquilo tava maluca!

Lembro-me do Matos ter tocado com Omited Grass Reaction! Trinta & Um estava no cartaz mas não tocaram por causa de uns estrilhos. No fim da noite houve um arraial de porrada à porta do Paradise entre pessoal de Linda-a-Velha e da Margem Sul. MEGA WILD! Outra memória foi o concerto de Agnostic Front no Paradise Garage. O Roger Miret tocou com uma t-shirt preta a dizer MSHC. Deu estrilho! No final do concerto, mais um arraial de porrada – a história do costume! Por fim, outro concerto memorável para mim: toquei com Kontrattack em Beja, num sábado, e no dia seguinte apanhei o comboio para Lisboa e fui ver Skarhead na Jukebox, matiné de domingo! Tocou Omited Grass Reaction e Last Hope! Fui com a minha hoodie straightedge do Drinking Sucks e o Vilela da Margem Sul, que estava à porta, com um garrafão de cinco litros de vinho, viu-me a entrar e disse: Ó PUTO, SÓ POR TERES TIDO CORAGEM DE VIR PARA ESTE CONCERTO SOZINHO, COM ESSA SWEAT, DEIXO TE ENTRAR À PALA! Foi granda concerto! O Raykar de Day Of The Dead e o Perez de Shift estavam lá! Respect! É preciso dizer o que é que aconteceu no final do concerto?


Quando (e como) é que o straightedge apareceu na tua vida e o que é que te levou a adoptá-lo? Na altura dessas idas a Lisboa já eras straightedge ou aproveitavas também um bocado para ir para a maluqueira?

Eu tenho um background uma beca auto-destrutivo. No tempo das “trips, bongos, álcool, siga a marinha” eu era igual. Nas histórias que contei antes ainda não era straightedge, à excepção do concerto de Skarhead. Era uma maluquice gigante, nada importava – era a destruição total! A primeira vez que ouvi falar de straightedge foi através de uma revista de metal que o irmão do Bica comprava, a Terrorizer. O Bica mais velho já tem mais de quarenta anos agora e fez parte da primeira geração do hardcore de Faro. Nessa altura (meados dos anos 90), as bandas do NYHC venderam-se uma beca à cena metal mainstream e começaram a aparecer em editoras grandes tipo Century Media, começando também a aparecer entrevistas em revistas mainstream do metal tipo Terrorizer. Ainda me lembro duma entrevista a Agnostic Front que tinha o Craig Setari (Straight Ahead, Sick Of It All) na foto da banda! Nessa entrevista eles falaram de muitas bandas de Nova Iorque, incluindo Youth Of Today, que referiram como sendo “a” banda straightedge de Nova Iorque. Nessa altura pessoal de Faro tinha cassetes aqui e ali com 7 Seconds, Uniform Choice, Up Front, Minor Threat, Gorilla Biscuits e Youth Of Today. Lembro-me que o Sonecas de Punk-Kecas tinha aquele CD antigo da Lost & Found, com Youth Of Today ao vivo. Então o meu primeiro contacto que tive hardcore straightedge acabou por ser com Youth Of Today.

Mas entretanto, ao longo dos tempos, mesmo antes de ser straightedge, fui conhecendo mais através, principalmente, dos Gorilla Biscuits, dos Youth Of Today e, obviamente, dos X-Acto, que vi algumas vezes antes de ser straightedge. Vi-os em Lisboa e na primeira vez que tocaram no Algarve, em 1996, no Bafo de Baco, salvo erro. O Raykar e o Pernas ajudaram a organizar através dos irmãos Pardais de Quarteira, que conheciam o pessoal de X-Acto. Nesses tempos eu estava uma beca perdido na vida, chumbei dois anos por faltas até que fui parar à turma do David, do Boto e do Diogo (que viriam a fazer parte dos Pointing Finger). Nesse ano eu estava no meu auge de mamadice. Para complementar, na mesma turma estava o Pedro Laranjeira, guitarrista de Punk-Kecas, ainda em altas do Verão que tinha acabado de passar e o Ruben, vocalista de Highest Cost, que começou a fumar ganzas comigo numa visita de estudo a Évora. Aliás, ele nem fumou logo uma ganza, nessa altura eu nem fumava ganzas porque não dava pica nenhuma, só bongos com quebras gigantes e o Ruben a primeira vez que lhe entrou THC no corpo foi logo com um bongo potentíssimo! Vi logo ali que ele tinha potencial, haha!

Bom, então tinha conhecido esses putos que curtiam de NoFX e Bad Religion e essas bandas da Epitaph e da Fat Wreck. Eu dessas bandas só gostava de NoFX, e muito! Nunca gostei de Bad Religion, Pennywise, Lagwagon e essas bandas todas que eram gigantes nos anos 90. Entretanto fui me dando mais com o David, que sempre se mostrou interessado em saber mais sobre punk e hardcore. O Diogo e o Boto igual, mas o David era mais activo. Na altura tanto o David como o Diogo não bebiam nem fumavam, só o Boto é que apanhava umas bezanas de vez em quando. Então depois de me aperceber que estes putos eram mais tranquilos falei-lhes sobre o straightedge um monte de vezes e eles foram conhecendo mais e mais e mais e mostrando-se mais interessados. Eu, apesar de não ser ainda straightedge estava super feliz que eles tivessem interessados na cena – mesmo antes de ser straightedge, sempre achei que o straightedge era a cena mais correcta e lógica que existia na comunidade punk hardcore. Fazia sentido para mim, mas não estava a conseguir deixar a vida que tinha. Muitos dias dava o toque da entreada para primeira aula da manhã e eu já tinha fumado um canhão sozinho nas escadas do Liceu.

Entretanto cheguei a uma altura da minha vida em que não estava a ter rumo nenhum e cada vez mais me estava a despertar interesse a cena toda em redor do straightedge, de viver alerta de mente sã e corpo são. Fazia sentido para mim porque eu sempre tive uma abordagem político-social através de todo o meu background punk hardcore. No princípio e meio dos anos 90 todas as bandas em Portugal, e da cena punk hardcore no geral eram assim político-social, mas não era forçadamente, a cena era mesmo assim. Não se perdia tempo a escrever letras a falar de amizades, desgostos amorosos, da vida e isso tudo – nesse tempo eram sempre letras anti-governo, sei lá. Tal como hoje, havia muita merda a acontecer, mas as pessoas pareciam ser mais conscientes e preocupadas com o mundo à volta delas. Hoje em dia, infelizmente, as pessoas vivem anestesiadas porque os grandes governos e as grandes empresas criaram formas de manter o povo entretido.

Para mim o straightedge é muito mais do que não beber e não fumar. É sobre estar consciente e alerta sobre o mundo à minha volta e eu uso o straightedge como arma para combater toda a alienação que se quer apoderar de mim e acreditem, drogas, cigarros e álcool é mau (para mim) mas o Facebook e tudo o que internet e a televisão fazem à mente das pessoas é mil vezes pior. Criam-se falsas ilusões da vida através das redes sociais e deixam as pessoas viciadas em coisas fúteis e eu uso o straightedge como forma de me tentar abstrair o máximo possível de toda esta alienação e viver alerta em relação ao que se passa à minha volta! Mente sã, corpo são! Consciente e alerta! Straightedge!


Suponho que a ideia de formar os Pointing Finger tenha surgido pouco depois de adoptares o straightedge? Como foram os primeiros tempos da banda, que tipo de dificuldades encontraram por ser uma banda straightedge e que tipo de aceitacao tiveram?

Sim, Pointing Finger foi uma ideia que já tinha surgido mesmo antes de eu ser straightedge! Posso-te dizer, e acho que muito pouca gente sabe disto, que o Vairinhos que era de Day Of The Dead chegou a ensaiar nos primeiros ensaios de sempre do que veio a ser Pointing Finger. Primeira banda straightedge de Faro... claro que ficámos naquela, mas tivemos sempre apoio da velha guarda de Faro. O nosso primeiro concerto foi épico! Um cartaz de luxo: Punk-Kecas, Kontrattack, Revenge (Quarteira) e Time X. Foi brutal! Ainda demos uns concertos em Faro assim meio com pessoal a gozar e mandar bocas, mas era mais no gozo, porque Faro sempre foi uma irmandade!

Eu acho que a aceitação foi bué boa e sempre foi engraçado! Sempre fomos mais bem recebidos e sempre deram mais valor à banda em Lisboa do que no Algarve e sempre tivemos mais aceitação na Europa do que em Portugal. Descobrimos também que somos idolatrados no sudoeste asiático sem nunca lá ter ido! Tive recentemente na Tailândia, Malásia, Singapura e Filipinas e os putos todos assim bué sem jeito ao pé de mim porque era “o gajo dos Pointing Finger”. Parecia que era o Ian MacKaye, ahah! Até descobrimos que havia bandas na Indonésia que faziam covers de Pointing Finger! Lindo! Bem, depois de Punk-Kecas, que teve muita aceitação na cena de Linda-a-Velha nos 90, Kontrattack e Pointing Finger foram as bandas que tiveram mais impacto na cena hardcore algarvia. Kontrattack tinha uma irmandade com o pessoal da Margem Sul e Pointing Finger com a cena toda no geral, tanto em Lisboa, como pelo país fora.

Só houve mesmo uma coisa que atrapalhou sempre o percurso da banda: Pointing Finger nunca foi uma banda assumidamente vegetariana ou vegan e para a maior parte da cena straightedge em Portugal isso não era bem aceite. Fora isso a banda sempre foi muito bem aceite, batalhámos muito para tudo correr bem e no geral foi sempre na boa. Nunca fomos uma banda daquelas polémicas, éramos uma banda de HARDCORE!

Quando os Pointing Finger acabaram, creio que fossem uma das bandas a tocar há mais tempo. Quanto tempo é que a banda durou? Do teu ponto de vista, quais são as maiores diferenças entre a cena portuguesa quando vocês começaram e quando acabaram?

Pointing Finger durou bastante tempo! Infelizmente, por razões profissionais, tive de sair da banda. Comecei a trabalhar no Departamento de Turismo do Resort de Vale do Lobo no Algarve e o meu horário envolvia trabalhar das quatro da tarde à meia-noite, especialmente quintas, sextas, sábados e domingos, o que se tornou impossível para eu dar concertos! O último concerto que toquei foi com Go It Alone em Faro, em 2006, e acabou em beleza, pois um dos meus bateristas e músicos favoritos – o Mark Palm, vocalista de Go It Alone nesse tempo, baterista de Get The Most – estava lá! No fim do set ele foi ter comigo e disse: “Dude, amazing drumming!”. E foi o fim. Depois tocou o Ludgero de Broken Distance (ainda straightedge), ainda fizeram uma tour (em que eu não fui) em 2006 e a banda acabou por morrer em Faro em 2007, num show com For The Glory, onde toquei a ultima musica: o eterno clássico intemporal “New Direction”, dos Gorilla Biscuits.

As maiores diferenças... hm... não sei bem explicar. Acho que a cena hardcore continua boa, mas antigamente existiam mais pessoas dedicadas a organizar outras coisas para além de concertos! A malta antes organizava uns pic-nics de convívio e era muito mais fixe do que ficar em casa a dizer merda no Facebook uma tarde inteira. Lembro-me que havia debates sobre vários assuntos. Cheguei a ir a alguns na casa ocupada e era lindo, todos falavam! Lembro-me por exemplo no Fluff Fest, de manhã haver conversas e debates sobre vários assuntos e eu curtia bué disso, porque hardcore para mim não é só mosh e merch! Lembro-me de nesse tempo existirem mil fanzines (ainda que cada uma fosse pior que a outra). A malta escrevia e dizia o que tinha a dizer e todos comunicávamos uns com os outros nos concertos. Eu acho que a cena continua boa, mas há mais passividade hoje em dia. Antigamente as pessoas tinham muito mais orgulho naquilo que defendiam. Hoje em dia parece que é mais importante ir para uma festa na piscina, fazer uma churrascada, tirar fotos e meter no Instagram e no Facebook da festa super nice com os melhores amigos do mundo do que organizar algo mais construtivo para o mundo à nossa volta. Só isso.

Ok, a última pergunta! Não te vou roubar mais tempo...! O hardcore continua a significar o mesmo para ti nos dias que correm? Tem tanta importância hoje como tinha quando começaste a fazer parte da cena, ou houve alguma coisa que mudou?

Nada mudou! Tudo aquilo que eu sou é aquilo que sempre fui mesmo, desde quando ainda não era straightedge! Uma das coisas que mais que irrita é quando um cromo desses do "antigamente" me vem com conversas inteligentes da superioridade e me diz: "Então Rafa, mas ainda és straightedge, ainda é vegetariano, ainda és isto e aquilo? Rafa, isso era fixe quando eramos putos, agora estamos mais velhos!"
Mete-me nojo essa conversa de merda. Não tenho nada contra quem mude, mas cuspir na sopa onde comeram, alguns deles eram super dedicados e interessados e de repente mudam e criticam o que foram antes... não entendo! Para mim hardcore é sinónimo de integridade. E sim, para mim tem a mesma importância do que antes, sem dúvida. Talvez até mais, porque com 31 anos, cada vez tenho mais a certeza que straightedge e vegetarianismo está certo e faz sentido!

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